José Manuel Tengarrinha (1932-2018): O Homem que amava a verdade e não sabia odiar

Um resistente em várias frentes
José Manuel Tengarrinha começou a escrever o seu destino como cidadão aos 15 anos de idade, como militante do MUD Juvenil (Movimento de Unidade Democrática), cuja Comissão Central chegou a integrar. No período do Serviço Militar Obrigatório ficou detido durante um ano na Companhia Disciplinar de Penamacor. A sua insubmissão política, seria traduzida nas suas sucessivas apostas políticas, desde o MUD Juvenil, passando pelo PCP, até à CDE, de que seria o rosto mais visível. O envolvimento cívico ativo, levá-lo-ia a ser um alvo habitual da PIDE, tendo sofrido, repetidamente, a perseguição, a prisão e a tortura. Sempre nas fileiras da Oposição Democrática travou todos os combates eleitorais entre 1958 e 1974, tendo sido candidato à Assembleia Nacional pelo círculo de Lisboa, nas eleições do período marcelista, em 1969 e 1973, tendo sido uma figura de destaque nas duas grandes reuniões da Oposição, respetivamente o Congresso Republicano de 1969, e o Congresso da Oposição Democrática, em Aveiro, em 1973. O preço da resistência pagou-o também, duramente, na sua vida profissional. A repressão do Estado Novo procurou retirar-lhe os meios de subsistência. Foi impedido, em simultâneo, depois de uma prisão em finais de 1961, da docência no Ensino Secundário e afastado pela Censura do exercício da atividade jornalística. Na sua busca por trabalho, encontrou sempre a insidiosa pressão da polícia política para o levar ao despedimento.
As permanentes dificuldades não o impediram de satisfazer a sua paixão pelo conhecimento. Em 1958 concluiu a licenciatura em Ciências Históricas e Filosóficas, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Desde 1953 que trabalhara como jornalista profissional no jornal República, tendo sido, também, o chefe de Redação, até 1962, de um projeto inovador, o Diário ilustrado. Trabalhou igualmente, ao lado de António José Saraiva, Maria Lamas e Júlio Pomar na revista Vértice. Na década de 60, integrou a redação da revista Seara Nova. Em 1962, foi-lhe outorgado o Prémio da Associação dos Homens de Letras do Porto, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, pela obra António Rodrigues Sampaio, Desconhecido, que coligia uma série de ensaios publicados em sucessivas edições do Diário de Lisboa. Na condição de bolseiro da FCG prosseguiu, entre 1963 e 1966, os seus estudos sobre o Século XIX Português, uma das suas áreas prediletas de investigação. Na companhia ilustre de Vitorino Nemésio, Joel Serrão e José Augusto França, fundou o dirigiu o Centro de Estudos do Século XIX do Grémio Literário, que manteve atividade entre 1969 e 1974 com o patrocínio da FCG. Nesse âmbito foram realizadas numerosas atividades de investigação e ação de promoção cultural, nomeadamente, cursos, colóquios e conferências sobre o Portugal Oitocentista.

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