Faz hoje anos 11 de março de 1975
É o 11 de Março de
1975! Provavelmente, um dos dias mais negros da história da liberdade no
Portugal contemporâneo. Uma absurda tentativa de golpe de militares e gente de
direita, a que presidia o general António de Spínola, foi derrotada pelo
contragolpe das esquerdas.
Um ataque fulgurante
dos militares revolucionários, ajudados por comunistas e grupos de
extrema-esquerda, conduziu à tomada do poder. Foram atacados os centros
políticos e militares, os organismos do Estado, as empresas privadas, os
bancos, gente diversa de direita, capitalistas, militares...
Foi uma verdadeira
provocação eficazmente aproveitada pelos revolucionários. Em poucos dias, em
poucas semanas, todo o poder económico, político e militar tinha passado para
as mãos dos revolucionários. E, em parte, dos comunistas.
Foi criado um
Conselho da Revolução militar com plenos poderes. O CDS, o PSD e o PS temeram
pela vida. As eleições constituintes correram o risco de não se realizar, mas
foram adiadas para 25 de Abril, graças a uma intervenção de última hora do
então Presidente general Costa Gomes.
Foi decretado o
Pacto MFA - Partidos, que obrigava estes a aceitar a imposição de normas para a
futura Constituição. A ideia e a inspiração do pacto foram de Álvaro Cunhal. Os
partidos foram forçados a assinar. O pacto obrigava os partidos a inscrever na
Constituição as "conquistas revolucionárias" e a "via original
do socialismo português".
É nomeado um novo
governo mais militar e mais à esquerda. É dissolvido o Conselho de Estado e
extinta a Junta de Salvação Nacional. Além do Conselho da Revolução, só com
militares, é criado um novo órgão de Estado, a Assembleia do Movimento das
Forças Armadas, MFA! Ao Conselho da Revolução é conferido o direito de veto
sobre todas as decisões do governo. A eleição do Presidente da República
passará a ser da competência de um colégio composto pelos futuros deputados e
pelos militares da Assembleia do MFA. Este colégio terá uma maioria de
militares.
São assaltadas sedes
de partidos do centro e da direita, assim como a da confederação patronal CIP.
Vários pequenos partidos de direita e de esquerda (PDC, MRPP, AOC, FEC-ML...)
são suspensos e é-lhes interdita e participação em futuras eleições. A lei
coloca na reserva os oficiais das Forças Armadas que não acatem os princípios
definidos pelo MFA. O herói do dia é o MFA e Vasco Gonçalves o seu príncipe.
O Copcon, comando
militar revolucionário, prende duas centenas de pessoas, entre militares e
empresários, sem mandado nem acusação. Mais tarde, muitos oficiais são expulsos
das Forças armadas por terem participado no golpe. É criado um "tribunal
revolucionário" para julgar "os golpistas". Os comandos das
Forças Armadas são quase todos substituídos. Aceleram-se os processos de
independência de Cabo Verde, Moçambique, São Tomé, Angola e Timor. Chegam cada
vez mais repatriados e retornados de África. O essencial da economia foi
nacionalizado ou colocado sob intervenção do Estado. Foi dada luz verde e
incentivada a ocupação de terras, de explorações agrícolas, de casas de habitação
e de empresas de todos os sectores, da indústria aos serviços, do comércio à
banca, da saúde ao agro-alimentar, dos transportes públicos à comunicação
social. Nos dias e nas semanas seguintes, são nacionalizados os bancos, menos
os estrangeiros, assim como as companhias de seguros, menos as estrangeiras.
Depois são nacionalizadas a TAP e a Siderurgia. A seguir, serão nacionalizadas
as empresas de produção e distribuição de energia, dos tabacos, dos cimentos,
da celulose, dos petróleos, dos transportes públicos, da indústria química e
dos adubos, menos as estrangeiras. Serão também nacionalizados os jornais O
Século, Jornal do Comércio, O Comércio do Porto, Diário Popular, A Capital,
Diário de Notícias, Jornal de Notícias e Diário de Lisboa.
Foram presos capitalistas,
proprietários, gente da direita e do centro, sem mandado, sem acusação... Uns
tantos fugiram para Espanha, Brasil.
António Barreto, in Diário de Notícias
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